de ruas sem nome e
portas sem números
de casas
devastadas nas mãos do fogo
de vidas perdidas
rasgando o fumo no amargo da noite
e de sons abertos
no solo do abandono
vamos falar na
cruz lancinante a suar no dorso da noite
de silêncios
embutidos nas unhas dos gatos fugitivos
dos seus pelos
eriçados pelos medos ancestrais
vamos falar de
felinos à espreita no peito assassino
para abrir
caminhos às sirenes que o vento desviou
vamos falar de
portas fechadas condenadas ao espectro da palavra
JUSTIÇA na onda de
odores mortais
vamos falar da
seca e a seguir do frio
da dor de um
planeta profundamente magoado
que assume o lugar
de um parto gigantesco de fora para
dentro
já não me apetece
falar. sinto o corpo gelado.
o Universo
penetra-me. entra dentro de mim. Sinto o seu peso
o peso profundo da
sua dor que me esmaga o cérebro e irrompe um queixume da minha alma.
Teresa Gonçalves, Dezembro 2017