18/02/09
se ouvisses quantas vezes eu rezei
pedindo a Deus para ouvir as minhas preces
ias saber quantas vezes eu te amei
sem que, meu amor, tu o soubesses
se soubesses quantas vezes eu sonhei
que todo o Universo era só nosso
ias saber, meu amor, como te amei
mas, amar-te mais eu já não posso
se me amasses quantas vezes eu te amei
antes de mim, antes de ti, antes das preces,
ias saber, meu amor, que regressei
mais vezes do que as vezes que mereces
no exílio silencio do meu verso
dou o teu nome letra a letra a uma flor
desfolhada nesta página em desamor
mas pedira Deus por ti, ainda eu peço.
" in" entre dois nós
14/02/09
Cala-te Vento
não quero ouvir cantar o vento
nas horas em que o sol chora!
nem saber onde vive onde mora,
é um bem querer...num só lamento.
canta quando eu não quero,
para meu bem ou mal...isso que importa?
é chaga aberta na minha porta
por lá viver, um coração sincero.
mas disso o vento não quer saber
e dentro do meu peito há pétalas a arder
de flores carinhosas...outrora...
sou um jardim queimado... ou uma estrada
ou não chego sequer a não ser nada?
- cala-te vento. quero silêncio quando o sol chora.
na ternura concreta das manhãs
há néctar dos olhos
e lava de beijos
que dançam como mariposas
em meus dedos
entre o canto dos pássaros
e dunas de desejo
neste caderno ocupado
onde o tempo é começo
do tempo nunca acabado
pelo bosque dos regatos da palavra
por seres tu poesia
a princesa dos meus silêncios.
Louvor à Natureza
onde um lado é verde azul
espuma pedra e sal
sobra nos lábios o poema
do canto das gaivotas
onde um lado é flauta de brisa
estende-se o hálito fresco
pelas artérias das planícies
e o perfume solar
deitado sobre todos os verbos
é transfusão de seiva
confluente divino a acariciar
o rasto da salvação
onde vibra em perfeição activa
hastes de aromas e sabores
os arranjos florais desenhados no horizonte
assumem o poder do pulmão
onde os olhos das aves viajam em asas de alegria
veste-se o céu para sorrirem rios
e favos de esperança cobrem a floresta
onde se descobrem mariposas a remover a vida
de joelhos liberto segredos confiados às estrelas
e reparto-me nos afluentes do amor
invoco cortejos de preces
e fico grávida de contemplação
no silêncio crepuscular
sobra nos lábios o poema
porque as palavras crescem
e são pequenas para te louvar
Protesto
se um dia a Deus eu for chamada
a prestar contas de tudo que aqui fiz
dir-lhe-ei: sou uma revoltada
por me dar uma vida que não quiz
por ver tanto vilão abençoado
e tanto canalha protegido
por ver tanto inocente mutilado
a silenciar na alma o seu gemido
e Ele, tão distanciado
cego, dorminhoco ou distraído
permite que a sua criação
semeie um inferno de dor
por ambição
que me julgue então como entender
como eu tantas vezes o julguei
ser justo, misericordioso e com poder
e descobrir, afinal que me enganei.
"in" painel multicor I volume