Com a voz do coração dou as boas vindas e agradeço a visita, porque, a semente mais pura do pensamento, está no coração.






25/11/12

Imagem Spence Thomas Ralph
deixa-me descobrir misteriosos lugares
ser gaivota na alma enchendo o espaço
tocar com as asas as ondas do mar
beber-lhe a espuma sem o drama
de o ver chorar pela poluição
deixa-me descobrir misteriosos lugares
ter asas na alma para nas árvores pousar
sem tocar na terra nem o vento desbaratar
o meu ninho de esperança
deixa-me descobrir misteriosos lugares
ser Vénus no coração e criança no olhar
sempre viva
sempre doce
com sonhos alimentar
na eterna viagem da imaginação
sem cenários gastos por dilemas e agitação.

deixa-me ir onde nunca fui
deixa-me ser o que desejei ser.

"in" livro Pleno Verbo


11/11/12

autor da imagem JANUSZ
não sei se irás para outro lugar
para outra terra ou para outro mar
se vais encontrar o céu ou o inferno
com pássaros de fogo ou lírios de brisa

não sei se cantarás a teoria dos instintos
se darás ao verbo a lucidez do universo
ou se irás tão ausente a chorar por ti
entre o silêncio de todas as luas

não sei
de nada sei
sobre o lugar que poderás encontrar

o imaginado deixará de ser mito
para passar a ser começo
do recomeço sem fim?
serão todos os sossegos acordados
e todos os segredos revelados
quando regressares ao mesmo lugar
na viagem do tempo?


Teresa Gonçalves

01/11/12

AVISOS DA NATUREZA


no limiar do desespero
sem tréguas acumuladas
cavalga magoada
levantando a fúria dos ventos
com compridas línguas de água
vagas de granizo - gelo - trovoadas
e o seu leito secreto
estremece
abre fendas num cenário de dor
entre escombros de pedra e lama
carimbando de catástrofes as páginas
afirmando:
ser o homem uma péssima imitação de divindade
ser a vida uma efémera passagem
um empréstimo que temos
um passaporte com prazo de validade.


2001
"in" livro Singelo Canal

23/10/12

sinto saudade, mãe, daquela menina.
daquela menina, mãe,
que falava com os animais, as árvores e as flores.
daquela menina sentada no peitoril da janela à noite
a falar com as estrelas e a lua
sinto saudade, mãe,
daquela menina que ao amanhecer fugia
para o baldio e ali abria as mãos ao céu a falar com Deus
como se o mundo se reduzisse àquele lugar
e a distância entre a terra e o céu
fosse somente a luz da inocência.
sentada no chão da terra, suspendia a respiração
para escutar os sons da Natureza
que eram para si a resposta de Deus.
depois dançava e ria, corria para casa com fulgor no rosto
carregada de energia.
sinto saudade, mãe,
daquela menina a chorar com medo de adormecer
temia os sonhos voltarem acontecer
com imagens de arrepiar.
sinto saudade, mãe,
daquela menina rebelde e doce
ajoelhada a teus pés pedindo perdão
sentindo-se culpada de ter nascido
quando te via irritada e preocupada
pelas dificuldades que a vida te impôs.
sinto saudade, mãe, daquela menina.
lembras-te dela, mãe?
ela não morreu.
sofre em silêncio por ter perdido a inocência
no coração da mulher que sou eu.

"in" livro Pleno Verbo


16/10/12

                                            
não quero ouvir cantar o vento
nas horas em que o sol chora
nem saber onde vive, onde mora,
é um bem querer...num só lamento.

canta quando eu não quero,
p’ra meu bem ou mal…isso que importa?
é chaga aberta batente na minha porta
por lá viver, um coração sincero.

mas disso o vento não quer saber
e dentro do meu peito há pétalas a arder
de flores carinhosas…outrora…

sou um jardim queimado… ou uma estrada
ou não chego sequer a não ser nada?
cala-te vento. quero silêncio quando o sol chora.



18/09/12

Demência dos deuses

dentro adentro por dentro
dos dias dissolvidos no vazio
dilatam-se dramas, dúvidas, descrenças
despem-se destinos vestidos de ausências
desperta dorido desespero
definham palavras despojadas de vontade
no silêncio demorado do devir. 
dançam demências à deriva
em declarado domínio de poder
delírio desenfreado dos desequilíbrios
desenhados à distância
que na distensa invisibilidade
disparam em todas as direcções
a desmembrar a dignidade. 
deixem-se deuses demónios de desejar
mais decretos-leis de desigualdade
porque o desígnio derradeiro e dominante
sem distinções… também a vós… irá domar


Teresa Gonçalves "in"livro painel multicor

03/09/12


quem duvida que a mulher abriga
em gomos de romãs a tristeza
no deserto do tempo? 

que adormece os ecos do vento
e amansa as marés com afectos?

que é dor esquecida
na alma presente
na palavra não dita
nos beijos que dá
no pão que amassa
em dias de sol 
em dias cinzentos
sem se esconder para lá do seu nome? 

na música dos ventos intemporais
será ela
sempre ela
silenciosamente
a entender todos os sinais
através das janelas da alma. 

Teresa Gonçalves 2012-09-01

06/08/12


dizes ter sentimentos? 
escondes a verdade
 na mentira e omissão 
 desdenhas da pobreza 
 da doença e da tristeza
 mostras indiferença
 por toda a humanidade
 não abres a porta à solidariedade
 esgueiras-te como a lua
 em frases de arquitectura
 sem nenhuma exactidão
 de palavras de conforto
 nem dum abraço ao compasso
 do sofrimento e da dor 
onde se calcinam vidas 
com o silêncio no rosto
 pela má sorte atraídas
 e confiado em tua suposta pertença
 dizes ter sentimentos? 

 tens a leviana loucura
 de levantar essa certeza
 onde chora a inocência 
de medo e amargura
 em caminhos assombrados
 por punhais de violência 
 em círculos acorrentados?

 não digas ter sentimentos! 
se o peso da mentira 
caiu sem piedade 
sobre a verdade 
para a converter em lama 
não me digas isso a mim
 que eu respondo-te assim:
 a tua visão do mundo
 é paisagem em poço fundo.

"in" T.G. Colectânea Galeria Portuense

DE PARTIDA PARA FÉRIAS, DESEJO A TODAS/OS AMIGAS/OS UMAS BOAS FÉRIAS. ESTAREI DE VOLTA EM SETEMBRO. BEIJOS MEUS E UMA FLOR.

30/07/12


                                         emoção peço-te: solta minh’alma!
construíste nela o ninho para viver
sem me dares tempo a poder dizer:
- sonhei singela,  nua,  pura,  calma...

se canto amor,  paz,  fé,  esperança,
sonhos,  tristeza,   dor,  ou amargura...
aqui levito numa onírica lembrança
de ter asas,  ser livre,  sempre tua

saber-te, emoção, dentro de mim
sem meu estro licença te ter dado
leva-me a desejar ser terra ruim

estéril,  ausente do sagrado
jamais sentir vibrar o coração
nem submeter-me à... agitação.

"in" livro Pleno Verbo

17/07/12


UIVAR DOS LOBOS



no tempo do vento advinha-se a angústia
e consome-se a alegria da alma

no tempo do vento roem-se unhas
de olhos espantosamente espantados
cegos pela areia arremessada
de uma assustadora onda corrompida
e inevitavelmente sangram sabugos
no silêncio do abismo

no tempo do vento os olhos são mar de dúvidas
a certeza ficou no uivar dos lobos
obstinadamente lançado à abóbada da dignidade

no tempo do vento
num mecanismo asfixiante
é servida a ausência de novos horizontes.




Teresa Gonçalves 2012/07/04

02/07/12



sinto nas asas
o peso dos túmulos.
 no coração
o peso das palavras.
da alma soltam-se pétalas roxas
que deslizam entre os dedos
                                              angustiadas

13/06/12

NÃO ME APETECE






Não me apetece...
Não me apetece…

Não me apetece escrever
Não me apetece sair
Não me apetece falar
Não me apetece beijar
Não me apetece sorrir...

Não me apetecem os dias
Não me apetecem as noites
Não me apetecem manhãs orvalhadas
Não me apetece o pôr do sol
Não me apetecem as gargalhadas...

Não me apetece ver gente
Não me apetece mentir
Não me apetece ensinar
Não me apetece fugir...

Apetece-me não me apetecer
Apetece-me recordar
Apetece-me olhar o nada
Apetece-me pasmar...

Tudo ou nada, tanto faz
Tanto faz outono, inverno 
Tanto faz viver, morrer...
Mas não! Dá trabalho apetecer!...

"In" Livro Inquietudes Manuela Barroso


14/05/12


afago com o olhar a polpa da Natureza
ao quebrar da tarde quente de verão
nesta praia serena
sem gente
sem algas
sem espuma
povoada de gaivotas
que abrem caminhos visíveis
na infinita lagoa azul
que ontem foi mar e amanhã o será.

enlaço o tempo real ao sonho
para perpetuar na retina
este crepúsculo de tarde branco,  azul,  laranja
e escuto comovida a música tépida da paz.

repouso o espírito sobre asas
de um cântico aberto colectivo.
 fascinada respiro sílabas de amor
que recebo das pequenas sereias
que cantam cheias de graça
à minha volta e sobre a cor marinha.

neste momento a praia serena
vestida de brancas penas
sem gente
sem algas
sem espuma
                                          é só delas e minha.                 
 "in" livro Pleno Verbo

27/04/12

CONVITES PARA TODOS COM O MEU CARINHO



 Tenho o prazer de convidar os meus amigos, seguidores e comentadores para o lançamento do livro  “INQUIETUDES” – Poética da grande e querida amiga Manuela Barroso
e
do livro de poesia “O VENTO E  AS VENTANIAS” de Florentino Alvim Barroso.
O evento realizar-se à no dia 5 de maio pelas 16 h no Palacete dos Viscondes de Balsemão (Praça Carlos Aberto, 71-Porto)  e cuja apresentação está a cargo da Prof. Doutora Isabel Pires de Lima e Teresa Gonçalves, respetivamente.
A partilha deste momento, com a  vossa presença, é uma alegria que muito me honrará.

17/04/12

Imagem da Net
ascendeste por séculos na história
em descobertas por terra e além mar
içaste a bandeira das quinas
nos países conquistados
com tal orgulho lusitano
que nenhum gigante se atreveu a intimidar-te
tão poderoso foste…
desafiaste deuses
cantaste vitória
até te caírem os dentes
agora pergunto: meu país - valei a pena ?
se o que soubeste conquistar
melhor o soubeste perder.
hoje onde está essa grandeza?
vejo-te a temer e a tremer
pela pobreza
sem glória e sem dados para jogar
sem horizontes e sem orgulho português
súbdito sem memória
de joelhos a pedir esmola
a quem no teu povo quer mandar
e se outrora ele ergueu o facho da vontade
com que iluminou a palavra fraternidade
hoje - a mão que o conduziu já se ausentou
o sonho morreu. – não volta na sorte incerta
das marés de uma Europa a navegar às escuras
urdindo faminta sem ser descoberta
leis e mais lei que dizem seguras
onde a tua tradição se escoou
e por muito que se diga que está tudo bem
quem sente na pele as agruras
da fome e do desemprego abismal
não diz amem – meu Portugal.
valeu a pena? - perdes-te a glória e a memória

Teresa Gonçalves

05/04/12

A TODAS/OS SEGUIDORES E AMIGAS/OS VOTOS DE PÁSCOA FELIZ



BEIJINHOS EM VOSSOS CORAÇÕES.
ATÉ BREVE.

20/03/12

[MADRUGADA EM MAR IMENSO]

Imagem da Net

meu amor… sonhei… sonhei…

meu amor. sonhei ser poema sem métrica...

mulher menina na muralha da minha existência

manhã após a madrugada em mar imenso

de vagas tristes e sonhos vagos…

ser o momento escrito no mistério do poema…

mágico moinho do pensamento moendo mansinho

todas as malhas do mal que impera no mundo…

ser tarde melancólica a meditar no mapa da vida…

murmúrio miúdo no movimento de minhas mãos…

milagre do poema transversal que modela

as montanhas do amor…

metamorfose assumida na transmutação do entardecer…

ser noite de lua nova no mês de Maio…

sem matéria alcanço o maravilhoso império

da divindade materna…

sou ser podendo ser um milhão de vezes mãe

mais do que sou em mim…

ser mito de multidões à margem do racional…

canto do pranto de maré em maré…

flor de um beijo furtado ao sol na música

do poema maior... melodia do verso dançando

com as palavras guardadas na memória…

marco místico de um espaço vazio…

alma sem máscara na curva do céu…

ser a maçã que Adão não trincou…

amora… cereja… framboesa e romã…

macedónia de frutos doces...

que o sol e os pássaros beijam mas não ousam morder…

migratória ave em eterna primavera…

fénix em vastos voos renascida das cinzas

contra o muro da morte. mas, meu amor,

sonhei muito mais, sonhei ser poema criança

sem malícia… mitigada mensageira

em múltiplas vidas… macia pétala de margarida

sorrindo da condição humana…

ser mendiga muda a comover o verso

minuto a minuto… membrana transparente

onde se advinha a cor da palavra…

miragem mirabolante medida no desejo

do poema maior.

meu amor… sonhei… sonhei…


Teresa Gonçalves


10/03/12

Imagem da Net
coração!
és sonho
és loucura
és ninho de saudade
escondido na penumbra
és a nobreza do ser
és o verme da maldade
camuflado num rosto
és contradição de sentir
és o tactear do cego
és balança da justiça.
navegas na solidão
de sentir contradição
entre o amor
a loucura
o sonho e a razão
quando bates apressado
ou paras
sem permissão.


"in" livro Olhar Interior




13/02/12

Imagem da Net

a muitas portas
toca a solidão
vestida de areia movediça
deste pântano oco em compaixão
onde a palavra amor
se desperdiça .

fecunda o orvalho
dos desenganos
desatado do amor
a quem se deram
nas ternas rendas vincadas pelos anos
gastos
em lutas e sonhos que viveram

e enquanto no egoísmo
dorme o mundo
despertando convulso de
quando em vez
implacável
a solidão toca mais fundo
nas ternas rendas que
foram talvez
na mocidade rostos de
seda pura
e hoje
quem as recorda?
quem as procura?


“in” livro painel multicor ( volume II )
Imagem Net

06/02/12

CONVITE PARA TODAS/OS


CONVITE A TODAS/OS AMIGAS/OS PARA A APRESENTAÇÃO DO MEU LIVRO PLENO VERBO, NO SÁBADO DIA 11 DE FEVEREIRO, PELAS 21 H, NA CASA LUSO ANGOLANA, SITA NA PRAÇA DAS FLORES, Nº 3 /23 LOJA 11-PORTO. UMA NOITE AGRADÁVEL, COM AS VOZES DOS COMPOSITORES CANTORES CARLOS ANDRADE, JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES E A VOZ MELODIOSA DA JOVEM MARTA CARVALHO. DECLAMAÇÃO DE POEMAS PELOS DECLAMADORES ALZIRA SANTOS E EDUARDO ROSEIRA.
«A FELICIDADE SÓ É COMPLETA ,QUANDO PARTILHADA COM OS AMIGOS.»

22/01/12

Imgem:Freydoon Rassouli

imagino-me em outra dimensão
mais perfeita – terna e perfumada
levo inteiramente o coração
na brandura de nova madrugada

desperto no espaço livremente
atinjo o percurso do afecto
triunfo do amor eternamente
sossegando a tristeza do deserto

canto paz – canto amor – graça maior
qualquer outro bem na vida é menor
do que este abraço do meu verso

vibra força vida no Universo
com a música da tranquilidade
colhendo a luz da fraternidade


Teresa Gonçalves. 2011-12-15

09/01/12

Pintura Ren Magritte
não vivo alheia ao sentido de existir
não vivo
nem ao meu nem ao da humanidade.
pela incongruente inconsistência
de condutas sociais, religiosas
e governamentais
suspeito
do rumo das excursões forçadas
das conduções manipuladas
das tempestades errantes
forjadas em espelhos de cânticos negros
que ofendem oceanos humanos
e mesmo assim
ainda acredito
que enquanto há vida
há esperança.
não se pode viver como trapos de existência
com remendos de fome
lutemos contra os ventos agrestes
combatamos nuvens sombrias
não deixemos entardecer agonias.
vamos lutar conscientes
de existir entre os povos
uma verdade a florir.

enquanto há vida…

Teresa Gonçalves 2012-01-02